E aí, boneca?

Há tempos uma estreia não causa tamanho alvoroço: sessões esgotadas, filas enormes, multidões de rosa, comoção nas redes sociais e muitas marcas tentando tirar proveito do burburinho. Antes mesmo de ser exibido, o filme “Barbie” já era um sucesso, confirmado pela bilheteria do primeiro final de semana em cartaz.

A curiosidade tem fundamento. Depois de “Lady Bird: a hora de voar” (2017) e “Adoráveis mulheres” (2019), a roteirista e diretora Greta Gerwig prometeu transformar a boneca-símbolo do patriarcado e do estilo de vida norte-americano no mais improvável dos ícones feministas. Neste sonho revolucionário, Barbie vê seu mundo cor-de-rosa prestes a ruir por uma crise existencial. A protagonista embarca, então, em uma viagem na qual descobre que o mundo real é machista e misógino, realidade oposta à da Barbielândia.

À primeira vista, “Barbie” funciona. Margot Robbie e Ryan Gosling se entregam à proposta sem medo do ridículo. Afinal, dar vida a bonecos de plástico com corpos inumanamente perfeitos já é ridículo por si só. Os cenários lisergicamente multicoloridos, a trilha sonora caprichada no pop e as muitas referências a clássicos do cinema ajudam a edulcorar a obra.

O roteiro, embora enfileire piadas capazes de fazer o espectador rir, é mais frágil que a masculinidade de Ken. As pretensas críticas ao patriarcado são mais rasas que a piscina da casa da Barbie. As supostas ideias feministas de que a protagonista toma consciência são mais anacrônicas que sua coleção de roupas. E a mensagem que a diretora busca passar é tão sincera quanto as comidas e bebidas que a boneca tira de sua geladeira.

Na ânsia de subverter as regras do capitalismo, Greta Gerwig se perde em uma trama que idiotiza as figuras masculinas (o feminismo não é uma inversão do machismo), reforça a misoginia e acentua estereótipos. No universo de “Barbie”, a vida de plástico continua fantástica.

Foto: Barbie (2023), de Greta Gerwig

4 comentários sobre “E aí, boneca?

  1. Eu não assisti e admito que não me interessei pelo filme, mas eu nunca me interessei pela tal boneca… e olha que eu tive uma por míseros segundos. Acho que eu vou escrever a respeito. rs

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