A mesma chuva

Alvenaria
O temporal interrompeu o sonho. Praguejando o despertar abrupto, sentou-se na cama para calçar os chinelos. Depois de percorrer os cômodos fechando janelas abertas, voltou para o quarto. A mulher continuava imóvel, confortável sob as cobertas, alheia aos lampejos dos raios e às trovoadas que sacudiam os vidros. As crianças também dormiam pesado.

Madeira
Não deu tempo para nada. Nem de calçar os chinelos. No clarão de um relâmpago, viu o teto sucumbir ao peso da tempestade e as ripas das paredes voarem feito folha de papel. A enxurrada arrastou a casa até o pé do morro. O último fiapo de esperança se foi na manhã seguinte, quando encontrou a mulher e as crianças sob os escombros. Praguejou a viuvez abrupta. O temporal destruiu sonhos.

Imagem: Heavy rain (2016), de Tae Kim (1970)

Um comentário sobre “A mesma chuva

Deixe um comentário