Haja coração

Quantos seguidores deve ter um advogado, um personal trainer ou um escritor para ser considerado bom? Dia desses, uma amiga médica contou ter recebido uma nova paciente. Marcara a consulta por indicação de alguém, mas se mostrava ressabiada, porque a cardiologista “não é muito famosa no Instagram, né, doutora?”.

O exemplo corrobora a impressão de que a excelência profissional tem se verificado cada vez menos pelos títulos acadêmicos e tempo de experiência, e mais por números superlativos na internet. Dentista sem canal no YouTube não faz boa obturação, economista sem conta no LinkedIn não sabe onde aplicar bem o dinheiro e padeiro que não faz dancinha no TikTok não é ninguém na fila do pão.

Não duvido de que haja excelentes quadros entre os influencers, assim como há profissionais competentíssimos que passam longe do estrelato virtual. Eu, particularmente, ainda procuro um cardiologista pela capacidade de interpretar um eletrocardiograma, mas há quem prefira alguém hábil em publicar, acumular curtidas e amealhar seguidores nas redes sociais. Tempos modernos: a fama fulminante vale mais do que evitar um infarto.

Imagem: Heartbeat medical stretched, de Sovereign Institute

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