Deve haver uma palavra para definir o medo de insetos voadores. Joguei no Google, como fazem todas as pessoas que têm alguma dúvida hoje em dia, e o resultado foi um tanto impreciso: entomofobia, que é o medo de insetos em geral. Encontrei ainda nos resultados a motefobia, que é o pavor de borboletas, mas que pode se estender a outros insetos que voam e até pássaros. Não era bem isso, mas – na falta de algo mais exato – serve.
Cheguei a esta pesquisa após um causo que relato agora. Logo depois de entrar no banheiro do trabalho para escovar os dentes, notei a nada discreta presença de uma mariposa pousada na divisória de mármore entre dois mictórios. Sem exagero, o bicho tinha cerca de um palmo de comprimento, grande o suficiente para me deixar cabreiro. Inclusive, para me fazer mudar de pia. Fui para uma mais distante, de onde eu poderia manter contato visual e não ser pego desprevenido.
Escovei os dentes com preocupação. A mariposa continuava lá, impassível. Não se abalou nem mesmo quando duas pessoas usaram o mictório ao seu lado. Eu, por minha vez, preferi usar a cabine depois de terminada a higiene bucal. E atento a uma possível invasão aérea, que poderia ser bem perigosa. Afinal, reza a lenda que as asas de mariposas e borboletas soltam um pó que podem nos deixar cegos.
Crendice, claro! Que não justifica meu desconforto em relação a insetos voadores. Ok, desconforto não, medo mesmo. No entanto, o medo tem uma função importantíssima: nos proteger dos perigos do mundo. É ele que nos faz, por exemplo, não cutucar a onça com vara curta, literalmente falando.
Deve haver uma explicação racional para essa aversão a seres alados tão pequenos. Arrisco dizer que seja a imprevisibilidade da rota que farão ao levantar voo. O que me afligia, parando para pensar agora, é não ter a capacidade de calcular com segurança onde eles vão parar. E o que gera insegurança nos desestabiliza, não?
Senão a ciência, talvez Freud explique. O que significa dizer que a culpa é da minha mãe. Também é possível. Ela tem verdadeiro pavor de baratas e foge de uma sempre que vê, pedindo que alguém a salve do monstro. Não podendo fugir, ela descarrega grandes quantidades de inseticida para exterminar o inimigo. O medo é tanto que ela mantém frascos em diferentes cômodos para evitar ficar encurralada. Uma estratégia extremamente sagaz, mesmo que a dedetização esteja sempre em dia.
Se é válido o clichê que diz que há uma exceção para toda regra, a da minha entomofobia fica por conta dos mosquitos. São pequenos demais e irritantes demais para causar medo. A eles, principalmente aos que insistem em zumbir no meu ouvido à noite, reservo a minha raiva e, com palmadas ou raquetes elétricas, meu desapreço.
O papo está ótimo, mas, se me dão licença, vou ali fechar a janela. Vai que entra um bicho voando…
Imagem: ‘Giant peacock moth’ (1889), de Vincent van Gogh