Praia de Botafogo

Ouço a voz das ondas quebrando na beira,
o cantor dos pássaros ciscando a areia úmida,
os segredos que o vento me conta ao pé do ouvido
e o deslizar dos remos no espelho d’água.

Vejo o sol refletir sua luz nos vidros dos prédios,
os barcos subindo e descendo ao sabor da maré,
o bondinho que escala com calma o Pão de Açúcar
e os aviões se aproximando para o pouso mais bonito do mundo.

Quem corre pelo Aterro até diminui o passo,
inspira profundamente o perfume da maresia
e dissipa as preocupações em passadas ritmadas.

Diante do mar e do horizonte azuis e infinitos,
eu tento suspender o tempo que corre depressa
para apreciar a vista – e a vida.

Imagem: Praia de Botafogo (2023)

A cor do amor

Até onde você iria por uma paixão? Em “Madu em rose”, romance de estreia da escritora carioca Natália Tupper publicado pelo Grupo Editorial Coerência, Maria Eduarda – a Madu do título – embarca em um avião rumo à Europa para dar uma nova chance a um amor mal resolvido no Brasil. Do outro lado do Atlântico, a estudante de direito descobre que as leis que regem um relacionamento são bem mais complexas do que qualquer código penal.

Passeando por lugares icônicos de Lisboa, Paris e Rio de Janeiro, a autora insere o leitor nos caminhos por onde passam as personagens pela riqueza com que detalha os cenários e brinca com clichês típicos das comédias românticas do cinema. A promessa de Natália de não revelar se a obra é autobiográfica põe em xeque também a máxima de que a vida imita a arte. Seria o contrário ou nada disso?

A aposta na sensorialidade vai além da farta ambientação. O sumário é uma grande playlist: cada capítulo é batizado com o nome de uma música, indo de Amy Winehouse a Caetano Veloso, passando por Noir Desir. As canções não só descrevem o estado psicológico das personagens, mas ajudam a embalar a leitura.

Como amor sem sexo é amizade, disseram Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor em música que não está citada, mas ecoa em diversas passagens, Natália Tupper não economiza nas cenas mais quentes, descritas com precisão e erotismo elegantes.

“Madu em rose” é narrado em múltiplas vozes, trazendo os pontos de vista dos principais envolvidos. São pouco mais de duzentas páginas que podem ser devoradas com volúpia ou consumidas devagar, a depender do gosto do freguês.

Imagem: “Madu en rose” (2023)