O mistério da escrita

Escrever guarda um mistério que não consigo decifrar. Raras são as vezes em que sei como vou terminar, mas os inícios se parecem todos: uma primeira frase se deita na página e espera a companhia das subsequentes. Uma vai puxando a outra e o texto toma forma, nem sempre de maneira consciente.

Não estabeleci um método, mas um hábito, que vale apenas para textos curtos. Não arriscaria escrever um romance em fluxo, sem um bom mapa de personagens e situações. Em escritos menores, que formam a grande maioria do meu acervo, corrigir inconsistências e eventuais desvios de rota é muito mais simples.

A consciência vem depois da criatividade. Primeiro, deixo a inspiração fluir sem interrupções ou sobressaltos (vai que ela some). Depois é que entra o trabalho de reler, organizar e lapidar. São frequentemente mais extensos os processos de reescrita, mas menos angustiantes do que ter diante de si uma página em branco.

Há escritores que não fazem qualquer revisão. Diz-se que Clarice Lispector era assim: ou bem entregava o que havia escrito, ou nunca daria a obra por acabada. Dou razão a ela. Um texto jamais se esgota, o que termina é o prazo para entregá-lo. Este, por exemplo, fica por aqui porque já é domingo, dia da publicação. O próximo ainda é um mistério…

Imagem: fotógrafo não identificado, Acervo Clarice Lispector/IMS

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