Pensando alto

Sempre ouvi dizer que o pensamento é infinito e que nele cabe o mundo, mas pensar ocupa espaço. Não há lugar suficiente na cabeça para alocar um sem-fim de informações. Deve ser por isso que a gente começa a pensar numa coisa, depois outra, outra e mais outra… Quando vê, não consegue mais voltar ao que tinha pensado primeiro. Esse fenômeno não acontece só porque o pensamento voou, como também se costuma dizer. Em algum momento, o cérebro precisa jogar algo fora para dar lugar ao novo. Dois corpos não ocupam o mesmo espaço e, para entrar um, é preciso que outro saia, como um armário abarrotado de roupas implorando por desapego.

A gente joga fora ideias sem nem se dar conta, pensando e despensando. Quando chamam quem tem uma memória prodigiosa de “cabeçudo”, tendo a achar que se trata muito mais de inveja do que propriamente uma ofensa. Eu mesmo gostaria de lembrar mais das coisas. Não sei quantos pensamentos consigo guardar, mas tenho a impressão de que meu limite é muito baixo.

Não arrisco perder pensamentos potencialmente importantes: anoto tudo num caderninho que levo a tiracolo ou no celular, o cérebro extracorpóreo deste século. Escrevo com riqueza de detalhes para não deixar escapar nada. Pode ser que a mente não jogue tudo fora imediatamente e que sobre alguma parte do pensamento no arquivo morto, como se a gente não tivesse esvaziado a lixeira ainda. Mas e se não estiver mais no lixo? Não dá para bobear…

Vez ou outra, volto às anotações. Leio do papel (ou do celular) e repenso tudo de novo. Quer dizer, às vezes até diferente do que tinha pensado antes. Vai saber? Determinadas coisas são lixo mesmo: rasgo e jogo fora sem dó. Outras ficam melhores quando pensadas pela segunda vez. Aí um mero pensamento vira algo maior. Se eu percebo que ficou grande demais, passo tudo novamente para o papel, porque pensar ocupa espaço no cérebro. Já pensei nisso antes?

Imagem: Thoughts, de Pawel Kosior

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