Novembro já se prepara para passar o bastão a dezembro, mês que costuma sacramentar não apenas o fim do ano, mas também o início da série de retrospectivas, confraternizações e toda sorte de clichês envolvendo o tempo. Desta vez, é pouco provável que alguém diga que passou voando ou que 2020 parece ter começado ontem. Que ano, meus amigos! A sensação – ou, pelo menos, a minha impressão – é que ele veio como um rolo compressor, atropelando tudo o que viu (e até o que não viu) pela frente. Para o bem ou para o mal, vai ser difícil esquecê-lo.
Deixo a retrospectiva para um outro momento, se é que vai valer a pena fazê-la. A vacina, ao que tudo indica, ficará para o ano que vem. Aglomerar com segurança, só depois disso. Deixar de usar máscara também. Ou seja, 2021 ainda nem chegou e já está cercado de grandes expectativas. É nele que o mundo está apostando todas as suas fichas. Mas pequenas alegrias podem ser experimentadas agora. O Natal bate à porta e, mesmo antes de ser convidado a entrar, espalha no ar o doce aroma de rabanadas.
Acredita-se que elas tenham chegado ao Brasil pelas mãos dos portugueses, embora sua origem possa remontar também à França. Não há como precisar o autor desta delícia. Em tempos tão polarizados, é bem capaz que ele fosse condenado por adeptos das dietas rigorosas ao chafurdar um pão no leite, torturá-lo em óleo fervente e jogá-lo ainda quente em um arenoso terreno açucarado. Tudo extremamente calórico e gorduroso. Para quem, como eu, está do outro lado do espectro gastronômico, ao inventor da rabanada seriam dadas as maiores honrarias. Que ideia brilhante dar ao pão adormecido um banho de leite morno e borbulhas em óleo antes de descansá-lo em uma cama perfumada de açúcar e canela!
As rabanadas costumam abrir ainda uma outra divergência: são melhores servidas quentes ou frias? Resolvo com rapidez a questão: como estiverem. A vida é muito curta – e o apetite imenso – para que a gente perca mais tempo esperando (pois já esperamos um ano inteiro) que esfriem. Ou, se estiverem geladas, para esperar que sejam aquecidas. Aproveito para esclarecer também que não há que esperar momento mais oportuno: são ótimas companhias no café da manhã, igualmente deliciosas como sobremesa no almoço e um doce prazer de fim de tarde. Então é Natal? Que seja com rabanadas…
Foto: CarlaNichiata/Getty Images